DJ Doripan conta sua trajetória como DJ

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DJ Doripan é uma dessas figuras maravilhosas que caem do céu. Além da bagagem e do conhecimento ele tem uma vivência intensa no circuito europeu. Hoje mora em Brasília e a história dele precisa ser contada.

[TUNTISTUN] Grande Doripan, tudo bem? É uma alegria fazer essa entrevista com você que é um dos caras que mora em Brasília atualmente que tem uma bela trajetória. Vamos falar disso tudo um pouco?

Seu pedido é uma ordem, além de um grande prazer.

[TUNTISTUN] Vamos falar um pouco do início de tudo? Conte mais sobre você, onde nasceu e como foi sua infância e adolescência?

Eu como uma grande parte dos que vieram colonizar Brasília, vim do nordeste, mas precisamente Piauí, uma terra quente literalmente, não só pelo sol, mas pela energia do nosso povo. Tive uma infância bem típica de um teresinense, brincávamos na rua, jogava vôlei, assim como até hoje jogo, porém na época em ruas de paralelepípedo (kkk) Se a Fivb sabe disso, muda as regras! Me dividia na adolescência entre os estudos e o trabalho com rádio, sou radialista de formação, hoje estou um pouco afastado do ambiente de Radiofrequência, pois trabalho na esfera governamental, mas tenho saudades do rádio, guardo-o com carinho, como um grande professor e instrumento de cultura.

[TUNTISTUN] Você sempre foi uma pessoa ligada em música desde cedo? Qual sua relação com a música na sua juventude?

Um exercício de memória que eu tentei fazer alguns meses atrás me remete mais precisamente a 1986, quando eu tinha 6 anos, meus pais sempre tiveram coleções de discos de todos os estilos, desde os regionais e internacionais, lembro-me que um dos primeiros discos ou primeiras músicas que eu ouvi e me encantou foi de uma banda maranhense e paraense não lembro ao certo, chamado NONATO E SEU CONJUNTO, eles faziam uma mistura de rock, samba e terecô que saia um som bem interessante, minha mãe me de uma vitrola portátil e esse disco virou um mantra e um problema porque eu torrava a paciência dos vizinhos ouvindo o mesmo disco várias vezes todos os dias (rs). Na minha juventude como todo piauiense tive um deslize musical, mas não diferente de muitos nordestinos que foi gostar de forró, mas fui salvo pelas mãos divinas (rs).

[TUNTISTUN] Quando e como você descobriu a música eletrônica?

Nos anos 90, não lembro bem o ano exato a Phillips lançou um system chamado MOVING SOUND, que a música do comercial entoava o hino da época que era Technotronic – Pump Up The Jam, pronto… aquele baixo e aqueles acordes pareciam droga no cérebro, uma relação parasitária, quanto mais eu ouvia, mais aquilo me exigia a ouvir mais, daí então foi uma saga incontrolável de compras de discos e cds de “balanço”, (Entreguei a idade né?) Embora fosse na década de 90, mas eu procurava toda e qualquer forma de dance music desde Larry Levan a Adam F, os extremos me agradavam.

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[TUNTISTUN] Quais foram suas primeiras festas e Djs que te abriram os olhos?

As minhas primeiras festas como de qualquer dj iniciante foram em pequenos clubs, na minha cidade foi em um club que se chamava CONVENTUM em um bairro popular de lá, foi uma grande oportunidade para alguém me ouvir, nessa fase você só quer ser ouvido, não tínhamos essa exposição artist-mídia que temos hoje, djs eram operadores de som, mas eu gostava da ideia de ver pessoas dançando músicas que eu ouvia na minha casa, era como se de alguma maneira tivesse algumas pessoas que vissem a música do jeito como eu via, visibilidade era coisa impensável para djs no Brasil nessa época.

Quanto aos djs, localmente tenho um grande amigo chamado Carlos Kleber, piauiense também que era residente da então grande boite da época que se chamava TEMPLUM, ele certamente foi o primeiro dj que prestei atenção como que modelo de dj eu gostaria de me tornar se de fato eu quisesse seguir aquela carreira, ele era muito técnico, sensitivo e visionário, levando em consideração que naquela época o que mandava nas pistas de dança do Brasil era os italo-dance, que bombardeava as rádios com hits chiclete que já não me agradavam mais, o CK era uma forma de vela para um barco que não queria afundar, ele sempre tinha aqueles discos que depois viria a ser música “underground”.
Internacionalmente minha primeira e maior influência foi o falecido e amigo Peter Rauhofer, austriaco que fincou bases na cena que hoje se denomina LGBTQIA+, Rauhofer tinha algo que nenhum dj seja ele dessa cena ou não tinha que era a vidência, ele conseguia predizer o que aconteceria, o que seria sucesso com uma margem incrível de meses ou anos, além óbvio de seu feeling musical que eu não vi em ninguém ainda.
Ele faleceu em 2013, de um câncer no cérebro mas deixou um legado único.

[TUNTISTUN] E logo que você gostou da música decidiu ser Dj? Como foi esse caminho?

Na verdade ser dj nunca foi um objetivo, como disse antes, eu sempre fui radialista e em um certo momento dessa carreira no rádio fui programador musical e uma coisa levou a outra, o que eu fiz foi aprender tecnicamente como misturar as músicas de forma correta como um dj fazia, porém nesse caminho fui desenvolvendo habilidades que me diferenciava para os meus contemporâneos, eu costumo dizer que eu talvez pela minha experiência no rádio eu era um bom programador que sabia mixar e isso me dava vantagem em relação aos outros djs, porque a mágica do rádio está em tocar as músicas no momento certo e há uma técnica pra isso, assim como na pista de dança você pode ser um excepcional dj tecnicamente, mas aqueles que têm a habilidade vocacional de programador sempre leva vantagem. Com o tempo meu trabalho no rádio estava praticamente impraticável, conciliar festas e trabalho diurno era desumano. Então deixei o rádio pra seguir a carreira de dj.

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[TUNTISTUN] Conte um pouco da sua experiência como um cara que morou fora do Brasil, que tocou por vários lugares, como você chegou lá?

Morar fora do país pra mim foi mais uma daquelas surpresas que a vida te oferece quando você não espera. Em 2010, eu fui pra Alemanha fazer um curso de um software de produção que eu usava na rádio e um dos instrutores era um brasileiro que morava em Amsterdam e administrava uma rádio lá, durante o curso ele me perguntou se eu não queria ficar uma  temporada por lá e ajudá-lo na rádio e assim mudei-me para Holanda e como todos sabem a europa é quase toda interligada “graças a Deus”, você vai de um extremo a outro de trem ou avião em pouco tempo, então fui fazendo network com muitas rádios e produtores de festas que me levaram a tocar e conhecer pessoas maravilhosas por todo o mundo: Espanha, Holanda, Portugal, Rep.Checa, Islândia, Alemanha….. Cara… eu saí de casa pra fazer um curso de 2 semanas (rs).

[TUNTISTUN] Diz para gente 5 músicas que te marcaram no início da sua descoberta na música eletrônica?

Technotronic – Pump Up The Jam

The Crystal Method – Comin’ Back

Filter – Take A Picture

Sasha – Xpander

Qualquer uma que venha com assinatura do Todd Terry (rs.)

[TUNTISTUN] E o que você gosta de transmitir nos seus sets?

Essa é uma boa pergunta, essa semana o meu psicólogo me fez a mesma pergunta, vou replicar ela pra você. Eu diria que tive duas fases na minha vida como dj e como pessoa, no ápice da minha carreira eu era um dj big room, gostava de mostrar aquilo que fosse mais chocante e que fizessem as pessoas acelerarem, hoje com 40 anos e naturalmente mais desacelerado e com a ajuda da própria indústria musical que desacelerou a ordem mundial da música para no máximo 124 bpm, inclusive o que é mainstream, eu comecei a encontrar uma forma mais introspectiva de transmitir o que passa no meu cérebro hoje, o que também não deixa de ser uma forma depressiva musicalmente falando, não do modo pejorativo, mas a música é reflexo do comportamento social de uma geração e sem dúvidas a nossa geração 2000’s é uma geração mais depressiva, porém mais observadora, estávamos vivendo uma nova geração PINK FLOYD. Quem explica o que é PINK FLOYD? É um estado, uma sensação, é complicado até para conceituar didaticamente. Hoje eu consigo tocar nos meus sets artistas que eu sempre amei, era influenciado, mas jamais conseguiria tocar na minha pista pelas características óbvias, artistas como: Sasha, Luke Chable, Anthony Pappa, Hybrid, James Holden, Phil K e por aí vai.

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[TUNTISTUN] E no Brasil, você viveu intensamente a noite, conta um pouco da diferença do Brasil para o Exterior nisso?

Essa comparação por vezes é bem cruel, embora a dance music seja uma obra originalmente americana, cada país desenvolveu sua forma de copiar essa reprodução mediante suas características musicais, sociais e culturais. O Brasil não foi diferente, vivemos fases diferentes, anos 80 influencia completamente americana, 90 toda italiana e 2000 ‘s começamos a misturar coisas europeias com samba, mpb, forró, sertanejo e por aí vai. Às vezes a receita pode dar certo, mas massacradamente dá errado (rs). A europa como um todo sempre foi conservadora com sua cultura, embora paradoxalmente sempre foram vanguardista (que lombra é essa?) (rs), posso dar dois exemplos, a Holanda sempre foi um país exportador de djs e de estilos, quase 90% dos djs de sucesso são da Holanda, eles sempre criam algo novo usando os mesmos instrumentos clássicos de produção que bombam e da mesma forma que bomba, desaparecem. Eu hoje com maturidade consigo observar que a cena inglesa é muito mais conservadora com suas características como país e na música seja ela em qual estilo for, rock, música eletrônica, pop, eles conseguem expressar como Londres é, uma cidade cinza, fria e introspectiva.

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[TUNTISTUN] Pode indicar 5 músicas mais recentes que você tem curtido?

Meat Katie, Ben Coda & Carbon Kingdom – Closer (Original Mix)

Frost – Overtones (PROFF Extended Mix)

Marsh – Lailonie (Extended)

Luke Chable – Melburn (Jamie Stevens And Joe Miller Remix)

Qualquer produção do Framewerk (Rs)

[TUNTISTUN] O que te encanta atualmente ao escutar um som?

Ela precisa mexer com minha serotonina e dopamina, isso é um princípio básico.

Eu preciso me encontrar nela (na música), ela precisa ter algo que faça parte do que eu sinto naquele momento, isso é expressado por algum acorde que me faça sentir representado ou representando meu estado mental no momento.

A exigência sonora, como profissional do áudio, eu sou muito chato com esse lance de qualidade de produção, ao contrário da indústria, para mim nem tudo que é bom precisa ter um master de +3db de saturação e aplicação de limiter, parece loucura, é como você ir a um laboratório receber um vírus respiratório e depois de infectado te indicarem máscaras como terapia de tratamento.

Não… eu não sou dj com classificação “genre”, quando eu vou pra cabine tocar eu não levo embaixo do braço o manual de normas do Beatport, Traxsource e afins, embora 90% do meu set eu uso progressive break & progressive house, se um ambiental, techno, macumba ou qualquer me apetecer, pode ter certeza que vou dar o play nela.

Vocal or not Vocal? Whatever…. No matter

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DJ Oblongui

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