As mulheres na música eletrônica foram primordiais na construção da estética musical e visual do que entendemos hoje como o som das pistas.
Jornalistas, produtoras, radialistas, pesquisadoras, programadoras de software, DJs… os campos em que as mulheres na música eletrônica atuaram remetem à década de 30 e seus feitos trazem à história capítulos que moldaram a música que dançamos hoje e a que dançaremos no futuro.
O talento feminino foi responsável por experimentações em contrapontos dissonantes, na invenção de sintetizadores como o Moog e o Buchla, no desenvolvimento de softwares de produção musical que hoje são vovôs dos programas que usamos para fazer música no computador, gravadoras seminais e muitos, muitos discos lançados.
O site Music Non Stop, recentemente, publicou a história de 50 mulheres geniais, incríveis e imprescindíveis nas histórias da música eletrônica mundial. Destacamos algumas e compartilhamos com vocês. Continue lendo!
Andrea Gram
Na estrada de ferro por onde passaria a locomotiva techno no Brasil, Andrea Gram foi quem meteu o prego no primeiro dormente. Pianista na infância, Andrea começou a discotecar em 1992 e apresentou o bate estaca a todo uma geração no país, reverberando o que fazia em seu lendário Club Alien, em São Paulo. Usa a coroa de rainha do techno brasileiro desde então, continua discotecando e é um exemplo para as DJs mulheres brasileiras.
Anja Schneider
Anja Schneider é radialista, seletora, dona de selo e de uma robusta discografia, o que a faz uma das maiores estrelas mundiais do circuito de DJs. Foi fundadora da gravadora Mobilee em 2005, empresa em que se afastou em 2017, momento em que considera um recomeço em sua carreira ao lançar o celebrado álbum SoMe.
O programa de rádio que Anja comandou por 17 anos, Dancing Under a Blue Moon (Fritz Radio), é considerado um dos responsáveis por introduzir toda uma geração de berlinenses à música eletrônica. No mesmo ano das mudanças, 2017, Anja mudou-se para a rádio Eins para tocar o programa Club Room nas noites de sexta feira.
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Blessed Madonna
Antes conhecida como The Black Madonna, Marea Stamper começou sua carreira vendendo mixtapes em raves no começo dos anos 90 em sua cidade natal, Kentucky (EUA). Hoje é uma das mais técnicas, importantes e engajadas DJs do planeta. Prova disso é que mudou seu nome artístico anterior (em homenagem mesmo à Virgem Maria, santa predileta de sua família) graças a uma petição online aberta no website Changes.org apontando questões de insensibilidade racial usando esta marca. Virou então a Blessed Madonna, mas o som continua igual, bastante embebecido nos elixires negros da house music, gênero que domina.
Clara Rockmore
Clara nasceu na Rússia e se tornou ainda criança uma virtuose do violino, sendo a pessoa mais jovem a ingressar na orquestra de São Petersburgo. Após mudar-se para os Estados Unidos, uma tendinite a afastou do instrumento. O que parecia ser o fim em sua carreira na verdade direcionou Clara para o equipamento que a tornou famosa no mundo todo: as apresentações usando o Theremim, instrumento que seu amigo Leo Theremim havia acabado de inventar e que ela ajudou em seu aperfeiçoamento. Em 1977 lançou o álbum The Art Of Theremim, produzido por ninguém menos do que Bob and Shirley Moog.
Daphne Oram
A britânica Daphne Oram, compositora e musicista, foi da primeira geração de profissionais a se de dedicar à criação de sons eletrônicos. Seu projeto de vida, o sistema Oramics, consistia em registrar sons eletrônicos diretamente em fitas de filmes de 35mm, então utilizadas para cinema. Em 1963 editou sua primeira música totalmente composta usando o sistema Oramics, batizada de Contrasta Essonic. Em 1980 começou a transpor seu sistema para um software, patrocinado pela Ralph Vaugham Williams. Apesar de não ter conseguido finalizar seu projeto a tempo, estudantes tentam até hoje seguir em frente com sua ideia.
Sonia Abreu
Sonia Abreu foi a primeira (e é a mais importante) DJ brasileira. Começou sua carreira na música como backing vocal na jovem guarda mais rapidamente foi para as rádios onde se notabilizou pelo conhecimento e pesquisa musicais fora do comum. Inquieta, logo decidiu transformar as sessões da rádio em rolê e fundou o Ondas Tropicais, o primeiro soundsystem do Brasil, que foi evoluindo de caixas na rua para uma Kombi, depois para um ônibus (que levou o som de Sonia para os lendários festivais de Águas Claras) e chegou até a ser montado em um veleiro que chegava de surpresa nas praias lotadas do litoral paulista.
Lady Miss Kier
Ativista, DJ, compositora, cantora e ícone fashion. Lady Miss Kier, a voz da icônica banda Deee-Lite, se mudou de Ohio para estudar moda em Nova Iorque. Deixou o curso ao se desapontar com a caretisse estética dos professora e começou a desenhar seus modelos baseados nas roupas excêntricas e extravagantes que via nos nightclubs.
Com a banda, que formou em 1982 ao conhecer o russo Dmitry Brill (o Supa DJ Dmitry), alcançou enorme sucesso mundial. Com o final do Deee-Lite em 1995, Kier se mudou para Londres para se especializar em produção musical e apostou na carreira de DJ. Colaborou nos discos de Bootsy Collins, George Clinton e A Guy Called Gerald, entre outros. Participa ativamente de ações em prol dos direitos LGBTQIA+, direitos das mulheres e direitos humanos.
Jayda G
Algo na água do Canadá vitamina mulheres talentosas na música eletrônica e no DJing. Jayda G veio da Columbia Britânica, a seis horas de Vancouver, para mostrar ao mundo um set cheio de R&B, funk e disco com elegância ímpar. A DJ se apresentou em São Paulo no festival Dekmantel em 2018. Seu set gravado no mesmo festival um ano antes é considerado um dos melhores da história da série de DJ sets em vídeo Boiler Room.
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Honey Dijon
“Vim de uma amável família afro-americana, bem classe média e muito musical, do sul de Chicago”, conta Honey Redmond, conhecida no mundo das discotecagens como Honey Dijon ou Miss Honey Dijon. Conheceu e foi apadrinhada por mestres como Mark Farina, Derrick Carter e Greenskeepers. Mudou-se para Nova Iorque apresentada a Danny Tenaglia e a partir de então era figura assídua nos line ups das festas mais descoladas da cidade. Mulher trans, Honey tem presença ativa nos movimentos de luta pelos direitos LGBTQIA+
Ekanta Jake
Ekanta Jake é a criadora do festival Universo Paralelo, um dos mais importantes eventos mundiais de música eletrônica que acontece há 20 anos durante a virada do ano no nordeste brasileiro. É uma das pioneiras do cenário psytrance brazuca e referência para um time de DJs mulheres que se dedicaram ao estilo que tem forte presença entre os jovens daqui. Além disso, a artista é matriarca de uma família de DJs. Seu marido e filhos discotecam, sendo um deles ninguém menos do que Alok, grande nome nacional do EDM.
A lista publicada no site Music Non Stop tem 50 nomes de artistas, clique aqui para conferir a lista completa.
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