História da música Eletrônica em Brasília parte 3: Wlöd Club

goethe
Great Space Here – 1995

O ano de 1995 foi muito importante e comentei sobre isso no meu post anterior. A história que vou contar agora começa com uma festa deste ano que me serviu de inspiração para o que eu faria no ano seguinte, com a criação do Wlöd. A festa Great Space Here foi a primeira festa realizada no subsolo do Teatro Dulcina. O Goethe, que é um instituto que difunde a língua e a cultura alemã, criou o projeto Techno Samba, destinado a promover o intercâmbio entre profissionais de clubs noturnos e produtores de dance music da Alemanha e do Brasil.

O coordenador do projeto foi Konrad Mathieu que junto com o DJ Hans Nieswandt fazem parte da Whirlpool Productions, selo alemão especializado em House Music Experimental. O staff do projeto visitou clubs e encontrou músicos e produtores em várias cidades do Brasil, incluindo Brasília. Foi a primeira vez que uma instituição internacional participava de uma festa de música eletrônica na cidade, promovendo uma ação bastante inovadora para a época, afinal, um intercâmbio como esse, era muito valioso em tempos pré internet. A festa foi incrível, lotada, pessoas interessantes e que pareciam identificar-se com a música e o espaço. Para mim, ficou claro naquela noite, que o Conic poderia ser um dos grandes locais de eventos de música eletrônica de Brasília. É um espaço no centro da cidade, diverso, e com o espírito verdadeiramente underground. A festa teve como atração os DJs alemães Hans Nieswandt e Justus Köhncke e os brasilienses Cnun e Sunrise 1. O clima estava diferente, um ar de novidade pairava no local, pois era a primeira vez que uma dupla de Djs internacionais se apresentava na cidade. O panfleto trazia na arte a foto da entrada de um local que parecia ser um armazém, de algum centro urbano, todo pixado, parecia um lugar ideal para uma rave. O Subsolo do Conic era um pouco diferente do que é hoje e já começava abrigando uma grande festa.

O ano de 1996 começa muito louco e já dava indícios desde o início que seria um ano agitado. Logo em janeiro duas meninas em uma cidade em Minas Gerais, alegam terem vistos seres alienígenas e o caso ganharia o mundo, com o nome “O ET de Varginha”.

Novos Espaços

Em Brasília novos espaços são desbravados para festas eletrônicas. O conceito de ocupação dos espaços da cidade ganha importância na cabeça de quem produz eventos. Nesse época as festas tradicionalmente aconteciam em espaços nas comerciais do plano piloto ou em boates no lago sul, pois eram mais fáceis para gerenciar todo o processo de produção de eventos. Estamos falando de um tempo onde qualquer festa fora desses ambientes legalizados corriam o risco de serem fechadas, pois eram todas ilegais. As festas não tinham alvará, não tinham qualquer suporte da administração pública e eram feitas na raça correndo um grande risco de prejuízo.

Outro espaço importante para lembrar é o da Universidade de Brasília. A UnB sempre foi palco de manifestações políticas e culturais. Desde o fim da ditadura militar, em 1985, muitas festas aconteceram lá. Aqui vou me concentrar nas que aconteciam nas dependências do curso de Arquitetura. Essas merecem destaque e fazem parte da nossa história. Muitos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo na UnB eram DJs e constantemente escalados para tocar na festa. Passaram pelo curso pessoas como: João Vicente Costa, o JVC, André Costa, o Cnun, o Marcelo Galo, o El Galo, o Márcio DJ Mak, o Cristiano DJ Quizzik, o Marcello Carvalho DJ Cello, o Mariano Garcia DJ Aeon, todos foram alunos do curso na universidade, e muitos foram frequentadores do Wlöd.

Pra mim é interessante imaginar se existe alguma conexão da arquitetura moderna da cidade com a aceitação da música eletrônica por seus moradores. Sempre me questionei como as pessoas de uma cidade sem histórico de clubs conseguiram ter uma ligação forte com a música feita para as pistas de dança? Confesso que era muito louco falar de Dance Music em uma cidade onde a experiência de dançar em clubs não era muito frequente. Mesmo sem estrutura e sem apoio formamos uma cultura em torno da música eletrônica, e devemos isso aos inúmeros DJs talentosos que surgiram por aqui e que foram movidos por essa paixão.

As primeiras festas que a música eletrônica teve espaço dentro da universidade foram nos anos de 1988 ou 1989. Essas primeiras iniciativas foram feitas por Pedro Tapajós que era o responsável por vários agitos na época. Com certeza ele foi um dos introduziu a semente da música eletrônica dentro da festa da Arquitetura. Essas festas cresceram muito e multiplicaram o número de frequentadores nos anos seguintes. No ano de 1996 foi realizada a Stuplash, festa que contava com a participação de vários DJs da cidade. Tradicionalmente a festa da Arquitetura trazia uma forte ambientação temática, era bem planejada e muito bem executada artisticamente. As festas sempre foram muito cheias, lotadas mesmo, era um ambiente muito democrático e diverso onde nos permitiam usar o espaço público de forma plena.

Decoração Stuplash 1996

Decoração Stuplash 1996

Decoração Stuplash 1996

Os espaços privados das comercias eram as alternativas mais viáveis no começo da década de 90. Arrumar espaços desse tipo, como o Hangar de Ultra Leves onde foi a Mentok 1 de 1992, não era fácil. Em contrapartida era uma época em que a cidade era mais tolerante com as manifestações culturais e artísticas. Ainda não tinham tantas reclamações e perseguições contra os bares e as casas noturnas nas comerciais das quadras.

Desde o fim da ditadura militar a cidade fervilhava culturalmente. Da década de 80 até os anos 90 as manifestações culturais se multiplicaram na cidade. Nessa época existiam muitas festas nos fins de semana (de todos estilos e tamanhos), tinham mais shows de bandas locais, e principalmente, muito mais música ao vivo nos bares. Hoje à noite a impressão que tenho é que vivemos praticamente em uma cidade deserta. Se você passar a uma hora da manhã em qualquer lugar das regiões administrativas ou mesmo nas comerciais do plano piloto, está quase tudo fechado, um silêncio total. A cidade de hoje é bem diferente nesse aspecto, e de alguma forma para quem não conhece a fundo, pode parecer que toda a fervura cultural foi dissipada. Hoje apenas núcleos engajados e profissionais oferecem alternativas de diversão noturna. Se por um lado no passado tínhamos menos público e menos acesso aos discos e músicas, tínhamos uma cidade mais tolerante às manifestações artísticas em geral. Hoje, em contra partida, temos um público maior, mais acesso às músicas e até conseguimos passar pelas burocracias de produção de festas, mas temos uma cidade muito menos tolerante à expressão musical. Esse é um dos motivos que acredito que o centro da cidade, onde se localiza o Conic, precisa ser o nosso símbolo de resistência. Não podemos perder o centro da cidade. Lutemos por ele.

Com certeza a influência política foi um fator decisivo para a ampliação da lei do silêncio e a intolerância em relação à música em Brasília. Saímos da realidade de uma cidade que era animada e muito caracterizada pelas festas, e suas diversas manifestações artísticas, para uma cidade quase deserta, aparentemente morta. Com as dificuldades da lei do silêncio, tivemos de nos deslocar para o centro, e agora cabe a nós continuarmos lutando pela utilização do local, que foi tão esquecido pelo poder público, e é adorado pela comunidade artística da cidade. No centro temos mais liberdade e ficamos em um ponto de fácil acesso ao transporte público, e principalmente, não tem gente morando por perto.

Nesse ano de 96 um novo espaço para usarmos em nossas festas abriu, dando uma nova dinâmica para o início do ano. Era mais uma casa em que dias de semana funcionava como bar para encontro de pessoas buscando acompanhantes. Essas casas que tinham esse perfil ficavam totalmente ociosas nos finais de semana e a gente conseguia boas negociações para realizarmos as festas. A casa mais nova do ramo era chamada Fifty Five, e ficava na 402 sul, na mesma rua do Gate’s e do Dream’s. Essa foi uma rua muito movimentada na época, hoje ainda resiste, mas sem a relevância que já teve na década de 90. Essa rua também foi afetada pela lei do silêncio que vigora na cidade, que acarreta a cada dia enormes prejuízos à cena cultural de Brasília.

As festas no Fifty Five eram normalmente para umas 200 pessoas e sempre iam os mais entusiastas da cena. Já eram as primeiras festas que traziam uma nova geração de Djs, que foram diretamente influenciados por Pedro e André. Todos dessas gerações iniciais tiveram a dupla como referência, e por sorte, nós todos éramos muito amigos. Nessa festa mais uma pessoa despertou para a música, e hoje é um dos grandes produtores de Techno da cidade, Maroan Kalout, DJ Maze One. Maze tem o projeto Hybrdz junto com Sérgio Collares e ferve até hoje nossas pistas. Falarei mais de Maroan e de Sergio Collares nos próximos anos dessa história.

Eu finalmente começava a entrar no circuito dos DJs da cidade tocando ao lado de todos atuantes na época, e nessa festa do Fifity Five toquei com El Galo (Marcelo Galo) e Fran (Fran Pinilla), que eram os destaques da geração posterior ao início de Pedro e André.

Artificial Intelligence – JAN de 1996

O ano de 96 começou com muitas festas e logo em abril mais um evento importante teve destaque na cidade e marcou esse início de temporada. Seria uma trilogia que começou com Podiceps Cristatus:

Podiceps Cristatus – Março 1996

Na segunda festa, no mês seguinte eu me apresentei com os dois. Foi a segunda vez que toquei com a dupla Cnun (André Costa) e Sunrise 1 (Pedro Tapajós). A primeira tinha sido a comentada Existan cel, no fim de 1995. A festa tinha o nome de Upupa Epops e foi um evento que aconteceu um mês antes da abertura oficial do Wlöd. O nome da festa saiu de uma espécie de pássaro da Eurásia que tem uma vasta e característica crista alaranjada. Era o segundo episódio do que acabou virando uma trilogia, onde a primeira festa tinha sido a Podiceps Cristatus, a segunda parte seria a Upupa Epops, e a terceira parte aconteceria só em 1997 com a Crex Crex Crub. Para a festa contrataram novamente o Paulucci para fazer uma aparição meteórica como na festa passada, e claro, foi mais um sucesso.

Upupa Epops – Abril 1996

Eis que chegamos no mês de maio e no dia 11 é a abertura da primeira casa noturna dedicada a música eletrônica na cidade, uma aventura épica de construção de um club. O Wlöd.

Flyer de inauguração do Wlöd Club

Quando recebi a proposta de montar o club não tive dúvidas que eu precisava montar uma equipe. Não dava para eu tocar tudo isso sozinho. Eu já sabia, por exemplo, que precisava ter o Cnun e Sunrise 1 como DJs. Vários eram os motivos, por serem os grandes nomes locais da época e por serem meus maiores influenciadores musicais. Quando comecei a planejar a abertura, em fevereiro de 96, pensei no perfil das pessoas que eu deveria juntar. Os Djs eu já sabia, agora eu precisava dos outros parceiros.

Desde que voltei para Brasília em 94 tentava insistentemente converter mais pessoas para a música eletrônica. Na quadra onde morei eu ficava andando com meu walkman para cima e para baixo ouvindo as fitas K7 que eu recebia do MauMau na época do Hell’s. Eu tinha o hábito de ficar animadamente mostrando trechos das músicas aos meus amigos. Consegui converter vários para a música eletrônica, e um deles, foi o Leo Cinelli.

Na época que eu estava morando em São Paulo, em um sábado de 1993, o Leo fez uma viagem pra lá e acabei convencendo-o a ir comigo ao Sra. Krawitz. Ele adorou a música, o local, tudo, foi uma identificação imediata. Sempre fomos ligados em música e dança, e formamos nosso primeiro grupo de breakdance com uns 9, 10 anos de idade, junto com Ernani Pelúcio e Andre Fonseca (DJ Drezin), personagens que falarei mais a frente na história.

DJ Drezin, Leo Cinelli, Ernani Pelúcio e eu sentado de calça branca no sofá

Em julho de 1995 o Leo vai para NY passar um período estudando e vai morar justamente com o Marconi, que tinha saído de Brasília para morar nos Estados Unidos, em 1994. Lá ele se aprofundou na cultura clubber da cidade. Marconi tinha deixado o Brasil por achar que esse estilo de vida demoraria muito para virar realidade por aqui. Infelizmente muitas pessoas talentosas deixaram essa cidade por não aguentarem as dificuldades da falta de lugar pra dançar constantemente, no nosso início, pois ainda tínhamos poucas festas eletrônicas na cidade.

Marconi (ao telefone) e Juliana em NY 1995 foto tirada por Leo Cinelli

Leo Cinelli em NY em 1995

As coisas começam a se encaixar quando o Leo retorna de NY, em fevereiro de 96, poucos dias antes de eu ter recebido a proposta de abrir o club. Eu pensei nele pra equipe pois já tínhamos afinidade desde os tempos de infância que passamos juntos na época do breakdance. Fora isso, depois de adultos, fomos juntos ao Sra. Krawitz e ele tinha acabado de voltar com a experiência clubber em Nova York, e certamente contribuiria muito para a formação do nosso grupo. Outra vantagem era que o Leo desenhava muito bem e poderia ajudar muito com o projeto. Essa vivência contribuiu para que ele virasse realmente um produtor de eventos e assim acabou seguindo com a profissão, com várias festas realizadas, como Grande Tenda, FUSE, Lata Digital, Makossa entre outras.

A primeira missão estava realizada, formar a equipe inicial. Eu já tinha os DJs, seriam Cnun and Sunrise 1 + Oblongui, e agora tínhamos o promoter. Para sua adequação ao time de nomes meio estranhos, Leo funda a Couhutec, sua primeira versão de produtor de eventos. Esse nome foi dado por ser o de um cometa que passou no dia de seu nascimento. A segunda missão agora seria achar o espaço do club, e assim, dei início oficialmente a esse processo, sem saber bem onde começar a procurar.

Fico uma semana olhando no jornal os anúncios de aluguel em busca de algum lugar que pudesse abrigar um club de música eletrônica. Era uma época que ainda não precisávamos de alvará para festas pequenas, mas para um club eu precisava me estruturar melhor. Depois das primeiras raves da cidade meu sonho era um galpão abandonado, ou algo semelhante, isso martelava minha cabeça. Eu imaginava que se a cidade tivesse uma experiência em um local desse tipo, tudo poderia ser diferente no futuro, a aceitação da música eletrônica poderia aumentar, pois quem já experimentou uma pista grande, em um galpão caracterizado, sabe o poder e a vibe que a festa ganha.

De início descartei as possibilidades de fazer nas comerciais do plano piloto por não termos capital para conseguir tocar esse projeto. Os alugueis seriam inviáveis, o espaço ideal certamente não caberia no nosso pequeno orçamento. Eu sonhava com algo impactante, e nas comerciais do plano piloto sem grana pra investir, ficava difícil. Logo volto minhas atenções para um lugar mais afastado da cidade, o setor de oficinas sul. Mais uns dias olhando o jornal eu acho um anúncio bem interessante e marco uma visita. Passo na casa do Leo Cinelli e nós dois vamos pela primeira vez no local que abrigaria a casa noturna. Quando chegamos nos demos conta que o espaço, mesmo sendo de um galpão, tinha toda a cara que já tinha sido uma oficina mecânica. No chão ainda tinham os espaços característicos para se fazer a troca de óleo de carro, com aqueles buracos. Não ia ser fácil fazer uma casa noturna ali sem muito dinheiro, mas no plano piloto um espaço desse tamanho seria impossível.

Uma coisa que não saia da minha cabeça era que quem conseguisse abrir a primeira casa noturna em Brasília dedicada à música eletrônica entraria para história, pois o momento pedia isso. Eu sentia que na cidade as festas já tinham crescido e todos estavam loucos por um club, e talvez, essa fosse a hora. Não dava para desistir, eu já tinha sonhado tanto com esse momento que na hora pensei: é aqui! Esse é o espaço que a gente precisa.

Alguns dias depois convoco os DJs Cnun e Sunrise 1 para conhecerem o espaço, e eles já incluem mais duas pessoas no grupo, Daniela Brilhante e Flávia Goldberg, alunas de Arquitetura da UnB. Elas eram frequentadoras das festas e foram chamadas para nos ajudar na concepção visual do club, e analisar o espaço que eu tinha achado. Elas foram pessoas muito importantes e criariam todo o conceito visual para a casa.

Quando todos chegaram foram logo querendo entrar, pois estavam muito curiosos. De cara tomaram um susto com o tamanho, acharam muito grande e ficaram bem preocupados no início. O espaço, para completar, estava com muito entulho, sujo e cheio de areia por todos os lados. Aparentemente seu último inquilino usou o espaço não como uma oficina, e sim como um depósito de artigos de festas. Dentro do local encontramos várias coisas características de decoração de eventos. O artigo mais curioso que achamos no galpão foi uma carruagem de princesa toda forrada, estilizada e de tamanho natural. Esse lugar, depois que a casa começou a funcionar, virou uma das coisas mais icónicas e comentadas da casa, já que usamos como uma grande atração da decoração do club e fez parte da mística que envolveu a casa noturna.

Carruagem do Wlöd Club

Passado o susto inicial de todo mundo com o tamanho do lugar, consigo convencer a galera a encarar o desafio, pois não tínhamos muito a perder. Nós, a princípio, íamos trabalhar na casa, não era para sermos sócios. Eles aceitaram a missão e ao final do dia todos saímos animados com a possibilidade cada vez mais real de termos um club eletrônico na cidade.

Idealizávamos um local para dar espaço a toda diversidade de pessoas que frequentavam a noite, e teríamos a total liberdade, pois o dono, não interferiria na parte artística. Esse era o nosso acordo. Ele ficou desconfiado mas acreditou no potencial do grupo que formamos. A equipe contava com Djs, promoter e a equipe de decoração, faltava só mais uma pessoa para entrar nesse staff inicial, e eu escolhi a irmã mais nova do Marconi, a Marlize. Ela era mais uma pessoa que eu tinha capturado mostrando músicas pelo fone de ouvido. Marlize seria a histórica hostess da casa, que para compor a história do club, e de seus nomes diferentes, seria chamada de Fëminette.

Marlize e as meninas no Wlöd 1996

Marlize na porta do Wlöd

A última coisa que faltava para completar esse processo inicial era saber se o espaço estaria adequado a finalidade legal de ser uma casa noturna. Essa informação era determinante para fecharmos o aluguel do espaço e abrir o club. Para tal, me dirijo a Administração do Guará para fazer uma consulta prévia, que é confirmar se o espaço está em conformidade com o uso planejado de atividades econômicas. No SOF (Setor de Oficinas) existiam alguns bares, o que já nos deixava com um fio de esperança. Chego na Administração e vou contando a história bem certinha e digo que quero montar uma boate no SOF SUL. A princípio o cara estranha muito o fato de eu querer montar uma boate no Setor de Oficinas e me alerta que é um lugar deserto que no máximo tem uns poucos quiosques a noite para vender pinga, que para boate não ia poder conceder o documento. De imediato indago se poderia, nesse caso, funcionar como um bar com som mecânico, e o servidor, sem pensar muito fala: – sim, bar com som mecânico pode. Pronto, estava resolvido nosso problema, para Administração o Wlöd seria um bar com som mecânico. Dessa forma conseguimos a aprovação da consulta prévia do espaço, documento que ajudaria a tirar o alvará autorizando o funcionamento.

Fui na imobiliária com o dono do club e fechamos um contrato de locação do imóvel. O valor combinado foi de R$ 1.600,00 por mês de aluguel. Agora não dava mais para voltar a trás, nós tínhamos a missão de montar um club do zero.

Atualização dos valores de 1996 para o ano de 2020 considerando a inflação do período.

Com contrato na mão damos início oficialmente aos trabalhos. Nos primeiros dias, eu e o Leo ficamos encarregados de tirar toda areia que estava lá dentro para que o trabalho de fato começasse. Eu me lembro bem que nós retiramos muitos sacos de areia de lá. Foi um trabalho enorme, nós passamos vários dias lá dentro para deixar tudo limpo, pois precisávamos pensar na obra e na decoração.

Para iniciar a decoração e todo o planejamento da concepção artística da casa, a gente precisava escolher um nome. Todo o projeto da casa deveria estar ligado ao nome e a proposta que imaginávamos. Juntamos a equipe de criação no próprio espaço e ficamos muito tempo pensando em qual nome dar. Sabíamos de uma coisa, a palavra club deveria estar presente. O nome deveria ser alguma coisa club. Era muito importante e simbólico, nesse momento, termos um verdadeiro club de música eletrônica.

Na nossa cena tivemos um início muito difícil. Brasília era longe do eixo Rio-SP e não teve um início semelhante as outras cidades. Geralmente em lugares onde a noite já era forte e tradicional, os Djs fizeram a transição sonora desde a disco até chegar na House Music. Para termos acesso por aqui ao material importado era uma tarefa muito difícil, tudo para gente era caro e distante. Brasília conseguiu despertar para a música eletrônica graças ao encontro do Danny com o Pedro Tapajós. Hoje da para ter uma melhor compreensão do quanto esse encontro encurtou nosso processo de assimilação da música eletrônica. Danny veio com discos e bagagem da cena de NY, e se junta com Pedro abrindo todo nosso caminho.

Outro ponto que já coloquei: será que a arquitetura da cidade facilitou a compreensão da música mesmo sem pistas de dança? Talvez sim. Mas devemos sempre pesquisar a história e agradecer muito a chegada de pessoas que, antes de nós, desbravaram terrenos duros, e transformaram em terrenos férteis para música. Mas acreditem, não foi fácil, pois durante esse início tocar música eletrônica na capital do Rock era um grande desafio. O risco não era ficar famoso e ganhar grana, isso nem passava nas nossas cabeças, era na verdade estar preparado para hostilidades, como talvez tomar uma latada de algum covarde. O DJ que se aventurava nessa época precisava além de muitos discos saber produzir eventos e se defender de ataques intolerantes.

Nós sempre sonhamos com esse momento, com a possibilidade de ter um club, semanal, para fazermos nossas festas e consolidarmos a cultura que sempre acreditamos. A hora finalmente tinha chegado, íamos abrir um espaço que seria totalmente voltado a música eletrônica. Como o nome precisava combinar sonoramente com a palavra club, pensamos em um nome curto, que precisava combinar com o final desejado.

Em mais uma obra da mente genial de Pedro Tapajós, ao fim do dia, quando nossas esperanças já estão acabando de poder achar um bom nome, ele pensa e solta um grito – Wlöd. Todos ficaram perplexos com o impacto do som que ele produziu, mas ficamos sem entender como seria a grafia, pois o som produzido pelo encontro das letras com o “o” em trema, dava aquele som entre o “o” e o “e” fechado. Quando Pedro mostra como seria escrito o impacto é enorme. Foi um nome tão bom que durante muito tempo as pessoas ficaram curiosas perguntando qual era a pronúncia correta e de como chegamos nesse nome. Muitos achavam que era o nome alemão de alguma coisa, mas o nome não queria dizer nada, não tinha um significado, só era sonoramente impactante falar Wlöd Club.

Para a decoração da casa a dupla Daniela Brilhante e Flávia Goldberg, diante das possibilidades, deram todo o norte artístico ao projeto. O tema escolhido foi uma mistura de insetos tecnológicos feito das sucatas e restos de peças de automóvel que conseguíamos na vizinhança. Por estarmos no Setor de Oficinas Sul a quantidade de restos de peças de carro era enorme e a variedade incrível.

Insetos de decoração do Wlöd

Insetos de decoração do Wlöd

Eram muitos restos de peças de carro e eles foram a primeira inspiração da casa, surgia aí a BIO-BLAST CORPORATION, nome que usaríamos como parte da história da concepção imagética da casa. A ideia era encher o teto com esses insetos, pois no local escuro quando as luzes coloridas ou estroboscópicas piscassem, dariam efeitos muito interessantes nelas.

Insetos da Decoração do Wlöd no teto

A festa de abertura dia 11 de maio de 1996 foi um sucesso, com um público presente de mais de 500 pessoas. Nessa noite, do início ao fim, as pessoas dançaram alegres e vibraram com a inauguração da casa noturna, afinal, era o que todos sonhávamos. A quantidade de gente estava boa, não estava vazio e não estava apertado, estava muito confortável, e como primeira impressão do público ficou a ideia que éramos completamente malucos de ter montado algo assim no setor de oficinas, ainda mais numa cidade sem tradição de clubs como Brasília. Saímos dessa inauguração com a sensação que tínhamos acertado no tema escolhido, nas luzes, no som, em tudo. Foi uma festa histórica que deixou claro que algo de diferente estava no início.

Pedro Tapajós (Sunrise One) na cabine do Wlöd

Mas nem tudo foi fácil nesse começo, pois a cidade, sem tradição de ter um club semanal, ia experimentar algo novo, algo nunca vivido. Como a proposta da casa era funcionar semanalmente aos sábados e nós estávamos fazendo algo que não existia aqui ainda, um club de música eletrônica, estávamos meio incertos de como seria a continuidade disso. Fomos com esperança que tudo ia ser maravilhoso para a segunda festa, mas, infelizmente, não veio o mesmo número de pessoas, e isso foi um impacto para nós. Para o público não teve tanta diferença, claro que tinha menos gente, mas quem estava ali eram os que mais desejavam aquilo, não iam desistir tão fácil. Só que o público caiu para a metade, com cerca de 250 pessoas. Preocupante.

Flyer da Segunda Festa do Wlöd Club

Eram tempos sem internet e redes sociais e a divulgação era feita com a distribuição física dos flyers na rua, principalmente nos bares da cidade. Era curioso que quando alguém que não estava muito familiarizado com nossos nomes, nem com a temática da música eletrônica e acabava recebendo um flyer no bar, olhava para ele e não entendia literalmente nada. Em geral, nesse início de divulgação da casa, as pessoas mal compreendiam que era uma casa noturna e também não entendiam o endereço do lugar, que colocamos como SOF SUL 3 A 10. A ideia nunca foi facilitar muito as coisas, os nomes não eram fáceis e a música, principalmente, não era para qualquer um.

Cnun (André Costa) Wlöd 1996

A cidade tinha, reconhecidamente, uma vocação para festas, e era pouco acostumada a programações semanais de clubs noturnos. Nós fomos muito preparados para a primeira festa, mas como seriam eventos semanais, precisávamos mudar a estratégia. Estamos falando do meio da década de 90, em uma época que Brasília novamente tinha ganhado atenção de fora por conta da música, e mais uma vez era com o Rock.

Não era fácil juntar muitos adeptos sempre, nós ainda precisávamos enraizar mais a música eletrônica na cidade. Agora estávamos com o negócio nas nossas mãos e não podíamos vacilar, precisávamos crescer mais, nos sustentar como empreendimento artístico. Por isso decidimos ampliar e mudar a estratégia de divulgação. A ideia inicial era produzir semanalmente as artes que seriam impressas no panfleto. E o melhor lugar para divulgarmos as próximas noites da casa era no próprio club. Então toda sexta feira a gente pegava na gráfica os panfletos da semana seguinte, para serem entregues a quem ia no sábado. A ideia era perfeita, todos que entrassem na casa receberiam o flyer da próxima noite. Somada a essa estratégia, decidimos criar um outro panfleto sem data escrita, feito em grande quantidade, falando apenas que a casa funcionava todo o sábado. Fizemos isso para diminuir o custo e aumentar a quantidade de panfletos que íamos sair pela cidade divulgando.

Começamos com uma tiragem de 10 mil panfletos, sendo 5 mil de um modelo, e 5 mil de outro. Essa forma foi escolhida para fazermos um revezamento dos flyers distribuídos. Em uma semana usávamos um modelo e na outra semana, o outro. O panfleto tinha menos informações ainda que os outros, mas nesse pelo menos resolvemos facilitar um pouco e deixamos o endereço escrito Setor de Oficinas Sul. O dono da casa que estava sempre muito preocupado achava que as artes eram pouco informativas e muito assustadoras e que talvez não fossem tão eficientes assim. Conseguimos convencê-lo que era uma baita estratégia.

Flyer dos sábados do Wlöd Club

Flyer dos sábados do Wlöd Club

Com a ampliação da divulgação a casa volta logo ao patamar de 500 pessoas por sábado e começa a consolidar sua noite na cidade. Com toda a ambientação feita com sucatas de restos de oficinas mecânicas o Wlöd criou uma atmosfera única. Várias coisas malucas foram feitas lá dentro, como colocar a carcaça de um fusca pendurada no teto, dando a impressão que estava caindo. Outras coisas simples e interessantes foram construídas, como vários canos de PVC com luzes coloridas dentro e pintados de prateado que direcionavam a pouca iluminação pela casa.

Wlöd durante o dia

Eu arrumando as agulhas dos toca-discos da casa – 1996

Sunrise 1 (Pedro Tapajós) 1996

Live PA de Paulo Beto – 1996

Beto (responsável pelas artes e pelo som) montando o equipamento

O Wlöd a cada fim de semana aumentava sua fama de ser o lugar mais alternativo e underground da cidade. Com toda a certeza era o lugar onde se escutava a música mais louca e onde tudo era permitido. Muitas novas sensações foram experimentadas ali. Era um lugar plural, livre e muito aberto as manifestações espontâneas.

Em junho de 96, um mês depois da casa ter aberto, a primeira matéria em uma revista de grande circulação nacional já fala da existência da casa. A matéria foi na revista Isto É que saiu dia 27 de junho com o título de Tribos Federais. Já seria um feito incrível uma casa com um mês de existência conseguir um espaço destacado em uma revista de abrangência nacional, mas um fato curioso ainda contribuiu muito para potencializar a matéria, pois foi a edição completa sobre a morte de PC Farias, tesoureiro do Ex-Presidente do Brasil, Fernando Collor de Melo. Esse fato ampliou muito a venda da revista e ela teve sua tiragem esgotada em poucos dias. Para a divulgação do club foi perfeito. No mês de junho o público da casa começa a aumentar para algo em torno de 700 pessoas por sábado.

Pista do Wlöd

O mês de julho seria o mês que a casa definitivamente conquistaria seu espaço na cidade, e com o aumento do movimento, começa a abrir eventualmente nas sextas feiras. Foram dois meses muito intensos de festas e as pessoas começaram a interagir mais com o espaço. Na pista tinham vários cubos de madeira colocados para as pessoas dançarem em cima, e eles ficaram cada vez mais disputados. As luzes estroboscópicas, a máquina de fumaça com seu uso intenso, a música alta, a carruagem, tudo estava funcionando perfeitamente.

Flyer do Wlöd em Junho de 1996

Flyer de Julho de 1996

Flyer de 2 meses de Wlöd

Flyer de 2 meses de Wlöd

Pista do Wlöd em 1996

Até que no dia 19 de julho, em uma sexta feira, o suplemento de cultura do Correio Braziliense coloca na capa de seu caderno, o Dois, e ainda nas duas principais páginas do encarte, uma grande matéria falando do Wlöd. Uma matéria bem mal escrita, é verdade, mas que fez a diferença no volume de gente que frequentava a casa.

Matéria do Correio Braziliense 1996

Matéria do Correio Braziliense 1996

Chegar no Wlöd era uma pequena aventura. Precisava ir obrigatoriamente de carro, ou taxi, estacionar por perto e encarar a fila para entrar. No dia que saiu essa matéria a casa abriu na sexta feira alugando o espaço para outros produtores locais da cidade. Nesse dia, por conta da matéria do jornal, a casa tem um público de 700 pessoas numa sexta feira, algo até então inédito. Os Djs foram El Galo (Marcelo Galo) e Cnun. O movimento no Setor de Oficinas está bem diferente agora, guardadores de carro, ambulantes, e até a polícia começam a aparecer na porta do club. O Wlöd desperta de vez a atenção da cidade.

Festa Bootsy em 1996

No sábado dia 20 de julho por conta da matéria de capa do caderno Dois do Correio Braziliense, que saiu no dia anterior, fez o Wlöd ultrapassar, pela primeira vez, a marca de 1000 pessoas na noite. Agora a fila para entrar estava grande, o espaço completamente preenchido e a energia estava no auge. Como era um momento de novas e intensas descobertas, a sensação de fazer parte era indescritível. Era uma mistura contagiante que envolvia escutar uma música completamente diferente em um lugar distante do centro que até para chegar nele era uma aventura. Todos estavam com a mente aberta experimentando novas sensações. Estávamos muito interessados em viver realmente tudo que envolvia o contexto das raves, era uma catarse coletiva. A atmosfera que o espaço emanava em um lugar longe do centro, de difícil acesso, muito escuro, com uma música bem complexa, com muita fumaça, tinha agora bastante gente interessada. Era um lugar inovador, muito diferente do tradicional que acontecia na cidade, e mesmo no Brasil, pois a maneira que foi concebida, quase como uma entrega coletiva, de um grupo de jovens idealistas, é muito significativa. A casa oferecendo essa experiência intensa todos os sábado trilhou seu caminho definitivo para a história da cidade.

O Wlöd certamente foi um dos primeiros lugares do Brasil a tocar jungle. Nós estávamos muito a frente no Brasil em relação a esse estilo, principalmente por conta de Pedro e André, que continuaram seguindo a evolução que as gravadoras Warp e Rephlex estavam lançando. No início tínhamos escutado o hardcore que é um estilo que usa bastante o poder do breakbeat, e o jungle é um estilo muito influenciado pelo hardcore/breakbeat das raves do início dos anos 90. Vamos lembrar alguns dos clássicos de batidas quebradas que começaram a ser tocados no Wlöd com Pedro e André, antes mesmo de muitos DJs do Brasil.

No Wlöd outro clássico que fez sucesso foi Plug (Luke Vibert) – Maker Of All, do álbum Drum’n’Bass for Papa.

Como o aumento de público se consolidou, e garantiu assim o sucesso das noites, abre-se uma nova possibilidade na casa com mais uma inovação de Brasília. Com uma pequena adaptação em um espaço a casa abre um Lounge, uma segunda pista, que ficou conhecida como pista B. Essa foi mais uma tendência que Brasília incorporou antes mesmo da difusão nacional do conceito de Lounge, que em São Paulo se consolidou com a abertura do Lov.e Club & Lounge em SP apenas em 1998. Enquanto o Lounge do Lov.e, de SP era na Vila Olímpia, bairro nobre e da elite de São Paulo, o nosso era no setor de oficinas sul, feito com restos de oficina mecânica.

Lounge do Wlöd, na foto Chicco Aquino e Renato Acha

Lounge do Wlöd – Na foto Tatiana Lionço

Com a pista B, o Wlöd passa a funcionar na forma de revezamento no som da casa. O DJ tocava um pouco na pista principal e depois ia para o Lounge direto. Pedro e André eram uma dupla e por isso esse trabalho ficou possível. A pista B abriu a possibilidade de ampliação da experimentação sonora na casa. Certamente poucos lugares no mundo tocavam uma música tão complexa, e fazendo pista com as pessoas vibrando com coisas tão refinadas como CUJO, nas mãos de Pedro e André.

Cujo (Amon Tobin) – Adventures In Foam [Full Album]

Amon Tobin é um brasileiro que estava em Londres no início da década de 90 e é considerado um dos artistas mais originais na música eletrônica. Fundiu Drum’n’bass com jazz e hip hop. Era um artista do importante selo Ninja Tunes. Outros clássicos de Pedro e André no Wlöd foram:

µ-Ziq – Pine Effect

Scorn – Falling (Autechre – “FR 13” Mix)

Soft Ballet – Jail of Freedom (Jailtilsli) Remixed by Autechre

Beaumont Hannant – Basic Dialog

Cylob – Diof

Kinesthesia – Flicklife [µ Ziq Mix]

Aphex Twin – …I Care Because You Do (1995) [Full Album]

No Wlöd um movimento que vinha se espalhando pelo mundo todo também chega aqui. É o fenômeno da segmentação da música em estilos na noite. Pedro e André começam a se estabelecer no Ambient/IDM e eu no Acid/Techno/House. Essa segmentação acaba chegando ao público, e o fato de agora termos duas pistas fez essa tendência se fortalecer ainda mais na casa. Muitas vezes quando o DJ trocava da pista A para a pista B o público que curtia o som ia atrás, o que criava um movimento grande de giro de pessoas dentro da casa, entre uma pista e outra, seguindo seu DJ de preferência.

Flyer com o detalhe das duas pistas

Flyer com o detalhe das duas pistas

Flyer de Agosto de 1996

Flyer de Agosto de 1996

Flyer de Setembro de 1996

Flyer de Setembro de 1996

Flyer de Novembro de 1996

Flyer de Novembro de 1996

Flyer de Novembro de 1996

Eu com a chave

Com a segmentação natural dos DJs da época eu acabo ficando conhecido como o DJ que tocava o som 4×4 característico do Techno e da House e que tocava mais pesado. Como meu som nessa época estava carregado de elementos de Acid de Chicago, do Techno de Detroit, do Acid Inglês, eu aproveitava o lounge para tocar um house mais suave, e acabei me identificando também com o estilo. Essas são algumas das músicas que eram meus hits no Wlöd:

Paperclip People – Floor

The Advent Green Gone Hard

Robert Armani Ambulance

Emmanuel Top – Radio

Hardfloor – Acperience 1

A+E Dept – The Rabbit’s Name Was

Robert Armani Destruction

Underworld – Cowgirl

Ian Pooley – Chord Memory (Daft Punk Mix) 1996

Psyche BFC (Carl Craig) – Chicken Noodle Soup

O Wlöd foi uma explosão de alegria e descobertas. O club serviu de laboratório para futuras gerações da cidade. Muitos artistas de várias áreas passaram no Wlöd e ajudaram a construir essa atmosfera única que consagrou a casa. Todos participaram de um momento encantador onde a música trouxe novas possibilidades e novas experiências. Nos próximos capítulos dessa história você vai ver os frutos que a casa gerou. Vai conhecer uma nova e grande geração de pessoas que frequentaram o Wlöd e depois viraram Djs ou produtores musicais. Adianto alguns nomes: Ls2, Maze One, Linkage, Arlequin, Quizzik, Kax, Xandy, Hopper, Donna, Chicco Aquino, Nego Moçambique, Fred Lobo, Chec, Fabio PSK, Pezão, CH5, Ric (Mr Spacely), Nívio Caixeta, DJ Kalif, Tomás Rodrigues entre muitos outros.

Só que o Wlöd teve um problema grave de gestão e acredito que o dono do local não tenha tido a capacidade estratégica de administrar um negócio tão complexo e que precisava de muito preparo emocional. Foi um lugar que o investimento total para abrir não chegou em R$ 30.000 (valores de 1996) e que começava e entrar muito dinheiro, e logo nos primeiros meses. Ele não valorizou aquilo que é o ativo mais importante nesse tipo de negócio, o staff e os DJs. Nós enfrentamos situações muito complicadas com o dono, o que abalou nossas relações em geral. Ficou muito estressante e pouco interessante financeiramente para nós. Em dezembro de 1996 Pedro e André saem da casa e o dono acaba vendendo para outras pessoas que continuam com o club pelo início de 97, até mudar de nome e perder o encanto. Eu ainda participei de algumas noites nessa nova fase, mas depois do que tinha acontecido ali não seria fácil manter esse espaço. Depois de algumas tentativas de festas mal sucedidas o lugar definitivamente acaba virando uma fábrica de gelo.

A partir do Wlöd um novo mundo se abriu na cidade, a figura do DJ começava a ser mais valorizada, o número de pessoas interessadas em realizar eventos aumentou, o público agora estava acostumado a uma noite semanal. Enfrentamos muitas situações complicadas para conseguir manter um ano de intensa atividade e o aprendizado foi enorme, para todos. Pela falta de recursos tivemos que elevar a experimentação ao nível máximo e a criatividade foi fundamental para que as coisas funcionassem, e daqui pra frente, nos próximos anos muita coisa aconteceria. Nos vemos em breve, no ano de 1997 que foi o ano da abertura do MiQra e da primeira vinda do DJ MauMau para Brasília, na Grande Tenda.

Continua…

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DJ Oblongui

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